A endocrinologista britânica Rachel Batterham, professora da University College London e um dos maiores nomes no estudo da obesidade, acaba de ser anunciada como vice-presidente de assuntos médicos internacionais da Eli Lilly para atuar na prolífica fase de desenvolvimento de suas medicações. Ela concedeu entrevista a VEJA com exclusividade.
O mundo acordou para o fato de que a obesidade é um problema de saúde? Passei mais de 25 anos como médica tratando de pessoas com obesidade. Infelizmente, a visão mais comum é a de que o peso é, de alguma forma, culpa ou responsabilidade delas. Isso é uma das maiores barreiras que as impedem de ter acesso aos cuidados de que necessitam. A ciência é clara: obesidade não é culpa de ninguém. É uma doença crônica e progressiva que merece a mesma atenção que outros problemas de saúde.
Mas muita gente ainda não faz essa ligação… Há mais de 1 bilhão de pessoas com obesidade no mundo e ela está por trás de mais de 200 complicações de saúde. Apesar desses números, não recebe o mesmo nível de diagnóstico, assistência médica, cobertura de planos ou cuidados de longo prazo que outras doenças.
Os novos remédios representam o maior trunfo da ciência nesse contexto? Há uma necessidade urgente de prevenir e tratar a obesidade. A prevenção primária é importante, mas não podemos ignorar tantas pessoas que já vivem com a doença e precisam de ajuda. Os medicamentos para o controle do peso podem desempenhar um papel relevante, desde que sejam usados adequadamente, dentro de uma abordagem de saúde integral. A medicação é parte da solução.
A banalização do uso é um perigo? Tenho muitas preocupações em relação ao uso de remédios para fins estéticos ou sem cuidados médicos. Eles não são aprovados nem devem ser usados para isso. Mas também me preocupo com a desinformação sobre perda de peso e as promessas de solução rápida nas redes sociais, e isso inclui a proliferação de vendas de versões manipuladas e falsificadas das medicações.
Publicado em VEJA de 12 de julho de 2024, edição nº 2901